Montadoras mantêm a produção de veículos sem cortes, monitoram a falta de chips e correm por fornecedores alternativos para evitar paradas
A Produção de veículos nas fábricas brasileiras continua ocorrendo em ritmo normal, apesar do avanço recente da falta de chips na Europa e dos primeiros reflexos no Brasil. Segundo empresas consultadas, não há impacto direto imediato nas linhas, mas o setor acendeu o sinal amarelo, com montadoras e sistemistas avaliando cenários e ativando planos de contingência para o fornecimento de semicondutores automotivos.
Entre as consultadas, a Volkswagen foi a única a não descartar problemas no curto prazo, citando a “situação dinâmica” do abastecimento. Em nota, a companhia informou que busca opções alternativas de fornecimento para minimizar eventuais rupturas, uma estratégia que vem sendo replicada por outras marcas no país e na Europa.
O pano de fundo é a interrupção de exportações da Nexperia, determinada pelo governo chinês, como resposta à decisão da Holanda de assumir o controle da subsidiária local da empresa. Embora os componentes afetados sejam, em sua maioria, de menor complexidade, usados como interruptores e em controles de volante, o volume atendido à indústria automotiva é elevado, o que pressiona a cadeia global.
Sinal amarelo, mas linhas seguem rodando no Brasil
Apesar do alerta, a produção de veículos permanece inalterada no curto prazo. Renault, General Motors e Hyundai afirmaram não enxergar mudanças operacionais imediatas. A Renault destacou que mantém contato diário com fornecedores, que também buscam soluções alternativas para comprar seus chips, e que vê impacto potencial limitado, sem afetar lançamentos e a produção.
Na avaliação de uma fonte da indústria, a pressão real se distribui ao longo da cadeia, já que não são as montadoras que compram diretamente os semicondutores, mas seus fornecedores de primeiro e segundo níveis. Esse efeito pulverizado dificulta mapear com precisão o risco de curto prazo, razão pela qual Anfavea e Sindipeças procuraram o governo para estreitar a colaboração. A Anfavea calcula que um veículo pode ter de 1 mil a 3 mil semicondutores.
A Bosch reconheceu a possibilidade de ajustes em função das restrições de exportação. Em comunicado, afirmou que, “caso as restrições de controle de exportação persistam, não podemos descartar ajustes temporários na produção em algumas plantas da Bosch”. A empresa também busca alternativas de fornecimento para reduzir o risco.
Europa em alerta e a peça-chave do caso Nexperia
Na Europa, a Volkswagen garantiu operação normal ao menos até o fim do mês, conforme noticiado pela Reuters. Uma parada pontual nas linhas do Golf e do Tiguan na sexta-feira, 24, gerou alarde, porém a empresa informou que se tratou de manutenção programada de equipamentos, sem relação direta com falta de chips.
Ao jornal alemão Handelsblatt, o chefe de produção da VW, Christian Vollmer, afirmou ter identificado um fornecedor alternativo capaz de compensar as entregas da Nexperia. Embora isso reduza o risco imediato, a companhia mantém a avaliação de que efeitos de curto prazo não estão completamente descartados, o que reforça a necessidade de um monitoramento diário do abastecimento.
Os componentes da Nexperia afetados não são de alta tecnologia, e sim chips de baixo custo, de produção em massa, o que teoricamente facilita a substituição. Ainda assim, a reposição depende de homologação e capacidade produtiva dos novos fornecedores, fatores que podem alongar prazos e exigir ajustes temporários de mistura e sequência de modelos.
Fornecedores no centro, governo acionado e lições da pandemia
No Brasil, o Sindipeças enviou carta ao ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, relatando sinais de aperto em itens críticos. O texto registra “redução significativa na disponibilidade de componentes eletrônicos essenciais para módulos de controle, sistemas de injeção e produtos de alta tecnologia aplicados em veículos leves, comerciais e industriais”. A mensagem reforça a Importância de uma coordenação setorial para preservar a produção de veículos diante de uma eventual disrupção.
O setor traz na memória a crise de semicondutores do pós-pandemia, quando cortes de pedidos durante os lockdowns redirecionaram volumes para segmentos aquecidos como celulares e computadores, atrasando a recomposição do fornecimento automotivo. A diferença agora é a causa concentrada, ligada à Nexperia, embora o impacto potencial seja relevante pelo peso da empresa na cadeia global.
Para mitigar riscos, montadoras e fornecedores intensificam a busca por fontes alternativas, com revisões de contratos, realocação de componentes e, quando possível, pequenas reengenharias que preservem software e interfaces. Enquanto isso, entidades como Anfavea e Sindipeças mantêm interlocução com o governo, em uma tentativa de ganhar prioridade logística e aduaneira, caso os gargalos se agravem.
Por ora, a leitura predominante é de prudência. A produção de veículos segue sem cortes, empresas ampliam estoques onde há disponibilidade, e o radar permanece voltado à evolução das restrições de exportação e à capacidade dos novos fornecedores de atender a demanda. Se a normalização ocorrer rapidamente, os efeitos tendem a ser limitados. Se persistirem, ajustes pontuais de turnos e modelos podem entrar no horizonte de curto prazo.
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